24.12.11

viagens interditas


É na maior parte das vezes à noite… Sim, é durante a noite. Não, não diria sempre. Dizer que é sempre é demasiado. Tenho dias que depois de deitado no teu perfume, mergulho no teu - lembro-me que… E tu esqueces-te de lembrar-me que... que o silêncio é quando a minha boca beija a tua. Já devias saber disso. Eu nunca te escondi que… Eu apareci como um passageiro clandestino no comboio que passava à volta do teu coração. Nessa noite eu nem sabia que havia… Comprei o bilhete, por acaso, e tu devolveste-o mais tarde. Já não há sede na despedida, nem folhas caídas no Outono para cobrir a saudade. Nessa noite estávamos na mesma estação, mas em lugares diferentes, talvez se eu pudesse gritar o teu… o destino não era o mesmo, tínhamos sentidos diferentes. Talvez se eu tivesse coragem para correr e ir mais além, até se tivesse agarrado a tua mão e… Por cada comboio que passou, uma palavra que ficou por dizer. E o vento frio da tua ausência despiu-me as recordações que outrora sonhei. Despiu-me a… memória. Não, não! Não te culpes quando não são os teus lábios os culpados. Foram antes as vezes que tentei chegar mais perto de… coisa nenhuma. Não é preciso olhares para mim dessa maneira, como se eu tivesse dito… a culpa também não é dos teus olhos. Se há alguém culpado por não conseguir chegar onde… sou eu. Fui eu que comprei o bilhete do comboio sem saber o destino. Não te preocupes demasiado comigo, eu estou além da… Quando enrolado no teu corpo, como a flor que procura água para beber, sonhei e disse: é só mais um dia, é só mais um beijo, é o meu corpo preso ao teu sem saber o que dizia. Estou além do que imaginas, se é que alguma vez imaginaste que estaria tão perto de… esquecer. Talvez, fosse melhor… dizer que exististe apenas na miragem do deserto da minha cabeça. Talvez tenha dormido sempre sozinho, porque tu não… uma das noites quase que pareceu que… tu nunca estavas lá. Depois de fechar os olhos, procurava-te e entre as memórias, recordo-me: do cheiro do mar, onde tantas vezes estivemos, do beijo roubado, do silêncio dos meus olhos a olharem os teus, à espera do dia em que ias partir… lembro-me sobretudo da primeira vez que… nessa noite apanhámos o comboio errado. E não é por isso que vamos deixar de… Devolveste-me o bilhete com o teu nome escrito e acrescentaste: a viagem não acaba, mesmo quando mudámos de destino. Não, não olhes para mim dessa maneira. Sorri, porque ao sorrires as noites não ficam tão frias. As noites agora não são frias. Deixei de sentir a noite para passar a ouvi-la. Consegues perceber a diferença? Guardei as memórias num comboio que ainda segue em viagem sem destino. Acho que me esqueci de… Não, não ficou nada por dizer. A história resume-se a um passageiro clandestino que apanhou o comboio errado e agora segue viagem. Não há nada melhor do que acordar no comboio certo, mesmo que não se saiba qual é o destino.

comboio: diogo tavares

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