23.1.06

treze de maio




Eu fechei os olhos e quando abri você não estava mais do meu lado. Foi naquela manhã em que resolvi que tudo ia mudar. Mas você só tinha ido na esquina comprar pão. Eu decidi que era hora de ir embora e virar a página da minha vida. Fazer uma nova história. Fazia tanto sol nesse dia e eu precisava mais que tudo de um óculos escuro. Na minha mochila tinha minha carteira de dinheiro, meu discman e as chaves da minha casa. Coloquei uma música qualquer só pra me distrair. O caminho estava longo até a minha casa. Estava ficando cansado. Meu celular ficou na sua casa. Na noite passada tive o pior sexo da minha vida. Alguma coisa se perdera entre nós. Você falhou na missão de me conquistar. Esqueceu que eu estava ali quase o tempo todo. E olha que eu tentei mais de... Sei lá. Perdi a conta das tantas vezes que tentei que desse certo. Nem amigos estávamos sendo no final das contas. Não havia mais nada. Eu esqueci de mim. Esqueci que eu era importante. Esqueci minha agenda. Que merda! Ainda bem que existe portaria. Salve! O chato é a cara de “eu sabia que ia dar nisso” do porteiro. Mas é melhor que ter que encontrá-lo agora. O céu começou a nublar e a ventar. Bem que poderia cair uma chuva pra lavar essa cidade. Já consigo avistar meu prédio. Minha janela, minhas plantas. Tenho que pegar as chaves que dei pra ele. E devolver as dele. Mas só na semana que vem quando eu voltar de viagem. Minha cabeça vai estar mais no lugar. Tem tanta gente bonita na praia hoje. Vai demorar um tempo pra eu voltar a ativa e viver outra relação. Acho que me apaixonar não. É tão fácil se apaixonar. Ainda mais numa cidade como essa. Tenho que ficar quietinho. E começar a malhar. Onde será que estão os solteiros desse lugar? Tenho que procurar minha agenda de telefones. Se bem que tem tanto tempo que não ligo pra ninguém. Meus amigos coloridos já devem ter desbotado. Todo mundo se casa hoje em dia. Eu tinha virado mais um enfeite na sua vida. Ninguém se casa com um enfeite. Mas eu não queria casar não. Gosto de morar só. E eu te conheci quando fui procurar apartamento no seu prédio. Mas não tinha nenhum. Você tinha sido o último a alugar ali. E você me deu a dica de outro. E é esse que moro atualmente. Demorou pra gente dar o primeiro beijo. Transar foi mais rápido. Eu estava saindo de um namorico que tinha me dado dor de cabeça. Não pensava em me envolver tão rápido. Mas tanto insistiu, que eu topei. Foi o tempo em que eu mais freqüentei cafeterias. E o que mais fumei marlboro light. Nesse lugar só tinha essa marca. Nem me lembro que tanto assunto nós tínhamos pra conversar. Era bom demais. Os dias tinham mais cor, mais brilho, mais perfume. Na época eu usava Jazz. E ouvia muito também com você. Aquela pessoa que você se mostrou no começo, eu tentei resgatar nos últimos tempos. Claro que não consegui. Ela não existe mais. Nem aquele que eu mostrei pra te conquistar. Nós nos perdemos em nós próprios. Mas valeu. Agora que cheguei em casa começou a chover. Na verdade é um temporal. Minha secretária com dez recados. Oito são seus. Meu horóscopo de hoje fala de “bons fluidos” e “passado vindo à tona”. Que dia é hoje mesmo? Ah, treze de maio. Bela data.