17.9.08

números do desassossego_3




17. são horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. vejo-me no meio de um deserto imenso. digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui.

livro do desassossego: Fernando Pessoa

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303. (...) a qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade.

202. (...) um dia, no fim do conhecimento das coisas, abrir-se-á a porta do fundo e tudo o que fomos – lixo de estrelas e de almas – será varrido para fora da casa, para que o que há recomece.

304. a fé é o instinto da acção.





2. tenho que escolher o que detesto – ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou sonho, para que ninguém nasceu. resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra.

5. (...) lembro que a vida, que tem estas páginas com nomes de fazendas e dinheiro, com os seus brancos, e os seus traços a régua e de letra, inclui também os grandes navegadores, os grandes santos, os poetas de todas as eras, todos eles sem escrita, a vasta prole expulsa dos que fazem a valia do mundo.

5. (...) mas não me engano, escrevo, somo, e a escrita segue, feita normalmente por um empregado deste escritório.

livro do desassossego: Fernando Pessoa

15.9.08

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26. dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma.

5. (...) com os olhos cansados, uma alma mais cansada do que os olhos.

78. (...) não é tédio o que se sente. Não é mágoa que se sente. É uma vontade de dormir com outra personalidade, de esquecer com melhoria de vencimento.





18. (...) que mais posso pedir aos Deuses ou esperar do destino? (...) porque sonhos tem toda gente: o que nos diferença é a força de conseguir ou o destino de se conseguir connosco.

8. estarei sossegado numa casa pequena nos arredores de qualquer coisa, fruindo um sossego (...).

6. nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. (...) aqui eu, neste quarto andar, a interpelar a vida! A dizer o que as almas sentem!, a fazer prosa como os génios e os célebres! Aqui, eu, assim!...


livro do desassossego: Fernando Pessoa