9.10.08

uma carta




Minha noite é como um grande coração batendo. São três e meia da madrugada. Minha noite é sem lua. Minha noite tem olhos grandes que olham fixamente uma luz cinzenta filtrar-se pelas janelas. Minha noite chora e o travesseiro fica úmido e frio. Minha noite é longa, muito longa, e parece estender-se a um fim incerto. Minha noite me precipita na ausência sua. Eu o procuro, procuro seu corpo imenso a meu lado, sua respiração, seu cheiro. Minha noite me responde: vazio; minha noite me dá frio e solidão. Procuro um ponto de contato: a sua pele. Onde você está? Viro-me para todos os lados, o travesseiro úmido, meu rosto se gruda nele, meus cabelos molhados contra as minhas têmporas. Não é possível que você não esteja aqui. (...) Meu corpo, esse azarão mutilado, quer esquecer-se por um momento no seu calor, meu corpo pede algumas horas de serenidade. (...) São quatro horas da madrugada. Minha noite me esgota. Ela sabe muito bem que você me faz falta e toda a escuridão não basta para esconder essa evidência. (...) Minha noite quer ter asas e voar até onde você está, envolvê-lo no seu sono e trazê-lo até onde estou. (...) O silêncio ouve apenas as minhas vozes interiores. (...) Você me faz tanta falta. E suas palavras. E sua cor. Logo o dia vai raiar.

cidade do méxico, 12 de setembro de 1939: Frida Kahlo

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