6.10.08

1912


O caso era que Tônio amava Hans Hansen, e já sofrera muito por causa dele. Aquele que mais ama é o subjugado e tem que sofrer. Esta lição simples e dura sua alma de catorze anos já recebera da vida. E ele era de um feitio que guardava bem tais experiências, tomava nota interiormente, por assim dizer, e, de certo modo, tinha sua alegria nelas, sem obviamente, dirigir-se por elas e delas tirar proveitos práticos.

(...)

“Por que sou tão esquisito, em conflito com tudo, em desavença com os professores, e estranho entre os outros meninos? Olhe os alunos, os bons e os de sólida mediocridade. Não acham os professores engraçados, não fazem versos e só pensam em coisas em que a gente afinal pensa e que podem ser ditas em voz alta. Como se devem sentir bem comportados e de acordo com todos! Deve ser bom... Mas que passa comigo? E como tudo terminará?”

Este procedimento de observar-se a si mesmo e em sua relação à vida desempenhava um papel importante no amor de Tônio por Hans Hansen. Amava-o primeiro porque era belo; mas depois porque lhe parecia, em todos os pontos, seu oposto e contraste.

(...)

Poder-se-ia, com alguma audácia, chegar à conclusão de que é preciso ter estado em alguma prisão para se tornar poeta.

tônio kroeger: Thomas Mann

Sem comentários: